“Que bagunça!”, falou uma criança de dois anos ao entrar na exposição “Over Flow”, do artista japonês Tadashi Kawamata, atualmente no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia de Lisboa. Não é para menos a impressão da miúda, já que a instalação consiste justamente na sobreposição de redes, garrafas, isopores, cordas e outros tipos de lixo marinho – encontrados e catados à mão em praias portuguesas – formando um grande emaranhado de descarte, com dimensões e porte monumentais.
A distopia presente na obra de Kawamata consiste na imaginação e concepção de um mundo em que o lixo do mar se transforma na própria cidade, substituindo a civilização humana por escombros. A imensidão arquitetônica da instalação parece espelhar a vastidão da natureza, que teve todos os seus recursos explorados e jogados fora. Esse contraponto fica ainda mais presente quando vamos ao andar de baixo, no submundo da obra, onde suas nuances são reveladas. Enquanto a obra flutua, nós, no andar de baixo, nos vemos submersos, sem luz, apenas sombras, e o restante do barco, literalmente afundado.
Se obras de monumentalidade arquitetônica estão sempre presente no trabalho de Tadashi Kawamata, esta é a primeira vez que ele utiliza o lixo marinho como matéria-prima e condutor de uma de uma crítica social importante, tanto ao turismo como à ecologia do mundo; essas questões são densamente investigadas e subvertidas numa mensagem poderosa e impactante. Não poderia concordar mais com o curador do projeto, Pedro Gadinho, quando escreveu: “Over Flow torna a consciência ecológica visceral e palpável, como apenas a grande arte consegue fazer quando trata as questões prementes da ação humana”.
A exposição
fica no MAAT até 1 de abril de 2019, e abre de quarta a segunda-feira, das 11h
às 19h. O valor da entrada é 5 euros.
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