SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES. Lisboa 2018
Exposição “Gabinetes” de Pedro Saraiva. Curadoria de Maria João Gamito.
Pedro Saraiva nasceu em 1952, vive e trabalha em Lisboa.
Professor Associado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (Desenho) e Professor convidado no Departamento de Arquitectura no ISCTE (Desenho). Pedro Saraiva desenvolve um trabalho em torno dos métodos conceptuais e de investigação sobre o desenho como projecto.
Participou em inúmeras exposições, nacionais e internacionais e individuais e colectivas ao longo do seu percurso artístico.
Muito mais tarde entendi a questão dos gabinetes como uma separação de fases e a construção de heterónimos por parte de Pedro Saraiva, em que fui capaz de identificar vestígios que conectam o todo, mas que cada um possuía focos diferentes, naturezas diferentes, muitas das vezes altamente ilusórias: um mapa com um percurso delineado que poderia nunca ter sido percorrido, pormenores de vegetação desenhados sobre papel ao pormenor e em grande escala, caixas em madeira com algodão no interior que me permitia imaginar uma nuvem guardada, e até os tais gabinetes, com o cenário criado e documentos que construíam novas personalidades, personalidades inventadas.
Senti tratar-se de uma exposição coesa, sendo para mim uma óptima introdução ao trabalho e investigação de Pedro Saraiva, era possibilitado o entendimento desta investigação bipolar revestida de uma serenidade/fúria, como necessidade do artista em se multiplicar durante o seu caminho, existe a tal conexão entre gabinetes mas todos eles com essências diferentes, senti o arquivo, senti a narrativa, e mais intimamente a poética. Apesar da separação e da construção dos gabinetes havia uma qualquer ligação ao imaginário de Pedro Saraiva, mais tarde vim a descobrir nas poucas referências bibliográficas em que encontrei algumas das várias personalidades criadas e encontradas pelo artista.
“Um arquitecto, um desenhador topógrafo, um médico e um vigilante de museu.Quatro livros de artista e Pedro Saraiva.Quatro livros de artista e a notícia breve de quatro vidas desenhadas nos traços que brevemente as grafam como acontecimento.(...) Nomes identificam os retratos. Caligrafias que laboriosamente traçam os caprichos da memória que nasce na escrita das palavras. Desenhos eruditamente inscritos no ofício e nos artifícios do Desenho. Fotografias de pessoas, coisas e lugares que traçam perfis e semelhanças fazendo deslizar os significantes para melhor inventar o mundo em que nos reconhecemos. tudo isso em discretas alusões à vida do autor, às vidas que ficaram para a história e às vidas que consubstanciam as estórias, num incessante viver entre realidade e a ficção.” ¹
fig.1 - Fotografia retirada do Instagram de João Silvério.
fig.2 - Fotografia retirada do Instagram de João Silvério.
fig.3 - Fotografia retirada do Instagram de João Silvério.
Penso ser uma exposição que me fará questionar continuamente ao longo do tempo, pelo seu cariz experimental, místico e pela sua coesão no todo.
¹ GAMITO, Maria João (2012) “Pedro Saraiva: vidas de papel: O artista como significante.” Revista :Estúdio, Artistas sobre outras Obras. ISSN 1647.6158, e-ISSN 1647.7316. Vol 3 (6): 234-240.
Sem comentários:
Enviar um comentário