Midori Takada
Culturgest, 15 Nov. 2018
Aos
66 anos, Midori Takada está nas bocas do mundo, muito por
culpa do entusiasmo colectivo à volta dos seus primeiros discos e
pelas consequentes reedições que surgiram após esse
burburinho.
Estes últimos 40 anos, a compositora e
percussionista japonesa dedicou-se a trabalhos a solo, em grupo e às
práticas teatrais.
As profundas buscas que fez na tradição
da linguagem percussiva asiática e africana são captadas numa série
de discos altamente procurados, onde se inclui a obra-prima ‘Through
The Looking Glass’ (1981) e a colaboração com Masahiko Satoh em
‘Lunar Cruise’ (1990), discos ambos reeditados em 2017.
Mas se o trabalho de Midori ressurge hoje e temos um interesse crescente em seu trabalho, isso não é surpreendente para mim.
Sua música tem algo mágico que vai além de o ser humano. E, a menos que seja muito refratário a se deixar levar (como o velho homem francês que nao parava de reclamar atrás de mim, imagino, por causa do embaraço que pode causar em algumas pessoas os momentos de silêncio...), o poder da simplicidade do son que nos traz fora do nosso cotidiano de consumidor e ultra-conectado, leve-nos na natureza ouvindo cada elemento que a compõe.
Também porque essa música reescreve tudo o que sabemos sobre a história da música japonesa, a percussão contemporânea, o minimalismo (também ocidental) e a maneira como olhamos para a origem de tudo, em que o coração da África bate tão claramente.
Midori revisou tudo isso com a delicadeza de uma borboleta, um componente sem qualquer notação musical, seguindo sua própria intuição, pintando o som em uma tela do tamanho do mundo e de nossa espiritualidade.
Não é mesmo nada de surpreendente que o trabalho da Midori Takada volta a data, porque sua música além de transmitir uma sensação de calma e serenidade, dá a recolher (especialmente no palco) uma luta contra nós mesmo, uma luta contra o nós mesmos consciente e vivendo em uma sociedade contemporânea que vai com muita velocidade e sem parar que tentamos rejeitar, às vezes, mas que não conseguimos fugir por falta de força, de ajuda. As composições de Midori Takada alcançam algo que nos apegamos, mas que tememos por causa da ignorância...
Não é mesmo nada de surpreendente que o trabalho da Midori Takada volta a data, porque sua música além de transmitir uma sensação de calma e serenidade, dá a recolher (especialmente no palco) uma luta contra nós mesmo, uma luta contra o nós mesmos consciente e vivendo em uma sociedade contemporânea que vai com muita velocidade e sem parar que tentamos rejeitar, às vezes, mas que não conseguimos fugir por falta de força, de ajuda. As composições de Midori Takada alcançam algo que nos apegamos, mas que tememos por causa da ignorância...
Se o minimalismo de Steve Reich (compositor norte-americano que foi pioneiro da música minimal em meados dos anos 1960) não era de acesso muito complicado para alguém que se movimentava na esfera da música erudita contemporânea, a pesquisa por músicas tradicionais (por vezes distantes) não era algo que se pudesse realizar sem uma considerável tolerância à frustração. “Há 35 anos era muito difícil descobrir informação no Japão sobre África e música africana”, diz Midori Takada. Daí que após muito peneirar, a percussionista acabou por conseguir deitar a mão a alguns álbuns de vinil que documentavam recolhas de gravações de campo e que ouviu com absoluta devoção, transcrevendo minuciosamente os ritmos e as estruturas daquelas peças para as poder reproduzir e analisar com a devida atenção. “Depois tentei tocar sozinha aqueles ritmos e estruturas polirrítmicas, e fiz a minha própria música sem qualquer ajuda.”
Não sei se é o encontro entre os dois mundos musicais africano e japonês (o que quase poderia ser oposto) que torna a prática da Midori tão especial, mas parece que atinge uma certa força na mensagem que transmite, incorporando o minimalismo nessas duas influências musicais. Quase no sentimos falta das passagens onde ela fala em inglês (para fazer seu texto ser entendido por todos) nas poucas vezes que ela falava.
Para o resto, Midori só fala com os instrumentos; tambores, pratos, um gongo, um xilofone de madeira e até uma corrente, entre outros instrumentos da tradição japonesa que não sei nomear. É pela mistura de sons, descoberta ou redescoberta que parece querer nos fazer passar uma diga que parece simples, mas que no final é tão difícil de capturar.
Saindo do espetáculo, a pergunta que me chamou a atenção foi : "Como eu achei isso ?"
Eu não tinha certeza da minha opinião sobre a performance, mas tinha certeza de que senti algo, mas algo que me impede de dar um julgamento de valor a essa. Tipo de "Beau Universel" para repitar o termo de Kant, antes da qual afirmar que "é lindo!" Seria um absurdo. Mas, por tanto, tenho certeza de ter visto performances musicais bem melhor do que isso. Então não é o significado musical da performance que me animo. Foi mais algo enterrado em mim. Como se o minimalismo do som mas também da senografia - que consiste nos instrumentos de musica e um jogo de luz suave e leve nos dê a impressão de viajar nas quatro estações ao ritmo do movimento físico e sonoro da Midori Takada - me empurra para ver mais adiante, me posicionar atrás da cortina do Grande Auditorio, ao lado do artista para sentir a energia.
Uma energia que nos faz sentir que todas as experiências visuais físicas, auditivas, olfativas, tem pistas para nos dar respostas às grandes questões existenciais.
Vamos nos então admitir que, se há alguma pista, a questão não é imaginária. Conseqüentemente, estamos predestinados a responder, porque tudo ao nosso redor está assistente para que possamos encontrar a resposta. E se essa resposta fosse simplesmente a felicidade de viver em harmonia com nossos sentidos, nossas mentes e o que nos dá acesso a ela ?
Em todo caso, é isso que Midori Takada humildemente procura nos transmitir:
um momento de felicidade.

15 NOV 2018
QUI 21:00
Grande Auditorio
M/6
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