terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Maria Matos Teatro Municipal | Culturgest. "Nenhuma entrada entrem" - Projeto Teatral - Von Calhau!


Von Calhau! é um casal artista, Marta Baptista e João Alves, que trabalha várias áreas como a música, as artes visuais e o filme. O seu percurso incide basicamente em projetos performativos e expositivos como pude ver na exposição, Projeto Teatral no passado mês de Dezembro na Culturgest em Lisboa, acompanhada de um grupo de crianças com idades entre os 8 e os 9 anos de idade.
O início da exposição, guiada, começou com a apresentação do orador e algumas perguntas ao grupo numa conversa em tom informal sobre como seria ver uma exposição. Após as respostas foi feita uma espécie de apresentação/preparação ao que iríamos ver nas galerias criando um sentimento expectante em todos nós. As peças estavam divididas em várias salas escuras com alguns apontamentos de luz. A exposição era composta por elementos esculturais mas também por desenho, projeção de vídeo e som com o objetivo principal de os artistas quererem colocar o universo do teatro num universo de galeria, convidando assim o público, atores e atrizes a assistir e a participar. Quiseram tirar o teatro do teatro. 

“Os atores e atrizes são as pessoas que passam aqui” (grupo de crianças, 2015).


[…] As sucessivas propostas deste coletivo vão dando corpo a um pensamento acerca da condição do teatro, dos seus fundamentos. Elas dispensam ou põe em questão, as convenções teatrais; nessa medida desafiam hábitos e expectativas que lhe estão associados. Muitas das obras passam pela ausência de elementos tradicionalmente entendidos como constituintes do teatro: ausência do autor, ausência da voz, ausência do texto. (curadoria projeto teatral, 2015).



Nas salas principais e onde é mais evidente este conceito, podemos ver o “Moinho” (fig.1) construído com farinha que representava um palco. “Porque é que a farinha era amarela?” (tinha uma luz a incidir), “Parecia uma roda gigante feita de pasta “, “Era um monte de farinha” (grupo de crianças, 2015).





Figura 1- Alex, Moinho, 2015.
Fonte:
http://primeiraavenida.blogspot.pt/2015/12/projecto-teatral-culturgest-lisbon.html



A peça “Imaginação morta imaginem”, constituída por uma aparelhagem com a reprodução de um disco de vinil, deu asas a um grande debate entre o grupo pois muitos não sabiam o que era e para que servia. “ O disco que ouvimos representa uma peça. O som faz parte de uma obra” (orador, 2015). Numa sala grande e vazia estava a peça “Vazio do teatro” que é composta por caixas retangulares feitas de pedra e terra pintadas de branco no interior (fig.2). 



Figura 2- Alex, Vazio do teatro, 2015.
Fonte: http://primeiraavenida.blogspot.pt/2015/12/projecto-teatral-culturgest-lisbon.html


Nesta sala foi-nos pedido que entrássemos um a um e que nos colocássemos num local à nossa escolha. Foi interessante observar a ocupação do espaço, num espaço livre. Uma vez mais faz-se uma comparação aos atores e às decisões destes quando escolhem o lugar no palco onde querem estar, fazendo com que constantemente rompêssemos o espaço, construindo um universo próprio. 
Após a leitura da exposição o grupo juntou-se no átrio para debater os temas abordados e fazer intervenções finais sobre aquelas peças.

Trata-se de um projeto complexo por abordar a criação artística contemporânea tendo sido proposto ao orador, fazer uma explicação clara da mesma a um grupo de crianças. Este facto pode, muitas vezes, ser facilitador por se tratarem de crianças sem pré conceitos (fig.3).



Figura 3- Grupo de crianças, 2015

No geral considerei a exposição interessante como espectadora, no entanto, como espectadora/professora constatei que poderiam haver mais formas interessantes de explorar o projeto a nível plástico e não só numa abordagem a nível teórico. Pessoalmente as expectativas iniciais não foram correspondidas na totalidade, talvez por ter criado uma ideia errada do que possivelmente iríamos ver, não se verificando o mesmo nas crianças quando questionadas sobre o projeto. Provavelmente, devido a barreiras e abordagens pessoais, inconscientemente criadas. Por fim, um espaço como o Museu que deveria ser livre, como é tida em conta na própria mensagem que os artistas tentam transmitir com o seu projeto, não o foi, criando-se em relação ao grupo, momentos de tensão e rigidez desnecessários no que diz respeito ao comportamento e maneiras de estar do grupo.



Referências

Projeto Teatral, Curadoria (2015) Nenhuma entrada entrem, Projeto Teatral, Culturgest, Maria Matos Teatro Municipal. Lisboa [Consultado a 29/12/15] Disponível em, http://www.projectoteatral.pt/