Von Calhau! é um
casal artista, Marta Baptista e João
Alves, que trabalha várias áreas como a música, as artes visuais e o filme. O
seu percurso incide basicamente em projetos performativos e expositivos como pude
ver na exposição, Projeto Teatral no
passado mês de Dezembro na Culturgest em Lisboa, acompanhada de um grupo de
crianças com idades entre os 8 e os 9 anos de idade.
O início da exposição, guiada, começou com a apresentação do orador e algumas
perguntas ao grupo numa conversa em tom informal sobre como seria ver uma
exposição. Após as respostas foi feita uma espécie de apresentação/preparação
ao que iríamos ver nas galerias criando um sentimento expectante em todos nós. As
peças estavam divididas em várias salas escuras com alguns apontamentos de luz.
A exposição era composta por elementos esculturais mas também por desenho,
projeção de vídeo e som com o objetivo principal de os artistas quererem
colocar o universo do teatro num universo de galeria, convidando assim o
público, atores e atrizes a assistir e a participar. Quiseram tirar o teatro do
teatro.
“Os atores e atrizes são as pessoas que passam aqui” (grupo de crianças, 2015).
[…] As sucessivas propostas
deste coletivo vão dando corpo a um pensamento acerca da condição do teatro,
dos seus fundamentos. Elas dispensam ou põe em questão, as convenções teatrais;
nessa medida desafiam hábitos e expectativas que lhe estão associados. Muitas
das obras passam pela ausência de elementos tradicionalmente entendidos como
constituintes do teatro: ausência do autor, ausência da voz, ausência do texto. (curadoria projeto teatral, 2015).
Nas salas principais e onde é mais evidente este conceito, podemos ver o “Moinho” (fig.1) construído com farinha
que representava um palco. “Porque é que a farinha era amarela?” (tinha uma luz
a incidir), “Parecia uma roda gigante feita de pasta “, “Era um monte de
farinha” (grupo de crianças, 2015).
Figura 1-
Alex, Moinho, 2015.
Fonte: http://primeiraavenida.blogspot.pt/2015/12/projecto-teatral-culturgest-lisbon.html |
A peça “Imaginação
morta imaginem”, constituída por uma aparelhagem com a reprodução de um
disco de vinil, deu asas a um grande debate entre o grupo pois muitos não
sabiam o que era e para que servia. “ O disco que ouvimos representa uma peça.
O som faz parte de uma obra” (orador, 2015). Numa sala grande e vazia estava a
peça “Vazio do teatro” que é composta
por caixas retangulares feitas de pedra e terra pintadas de branco no interior (fig.2).
Figura 2- Alex, Vazio do teatro, 2015.
Fonte: http://primeiraavenida.blogspot.pt/2015/12/projecto-teatral-culturgest-lisbon.html
Nesta sala foi-nos
pedido que entrássemos um a um e que nos colocássemos num local à nossa escolha.
Foi interessante observar a ocupação do espaço, num espaço livre. Uma vez mais
faz-se uma comparação aos atores e às decisões destes quando escolhem o lugar no
palco onde querem estar, fazendo com que constantemente rompêssemos o espaço,
construindo um universo próprio.
Após a leitura da exposição o grupo juntou-se no átrio para debater os temas
abordados e fazer intervenções finais sobre aquelas peças.
Trata-se de um projeto
complexo por abordar a criação artística contemporânea tendo sido proposto ao
orador, fazer uma explicação clara da mesma a um grupo de crianças. Este facto
pode, muitas vezes, ser facilitador por se tratarem de crianças sem pré
conceitos (fig.3).
Figura 3- Grupo
de crianças, 2015
No geral
considerei a exposição interessante como espectadora, no entanto, como
espectadora/professora constatei que poderiam haver mais formas interessantes
de explorar o projeto a nível plástico e não só numa abordagem a nível teórico.
Pessoalmente as expectativas iniciais não foram correspondidas na totalidade,
talvez por ter criado uma ideia errada do que possivelmente iríamos ver, não se
verificando o mesmo nas crianças quando questionadas sobre o projeto.
Provavelmente, devido a barreiras e abordagens pessoais, inconscientemente
criadas. Por fim, um espaço como o Museu que deveria ser livre, como é tida em
conta na própria mensagem que os artistas tentam transmitir com o seu projeto,
não o foi, criando-se em relação ao grupo, momentos de tensão e rigidez
desnecessários no que diz respeito ao comportamento e maneiras de estar do
grupo.
Referências
Projeto Teatral,
Curadoria (2015) Nenhuma entrada entrem, Projeto Teatral, Culturgest, Maria
Matos Teatro Municipal. Lisboa [Consultado a 29/12/15] Disponível em,
http://www.projectoteatral.pt/