No
passado dia 3 de janeiro de 2016, desloquei-me até à Rua de Madre de Deus,
perto de Xabregas, na zona oriental de Lisboa, para visitar e conhecer o Museu
que aborda a história de um dos objetos mais reconhecidos da cultura
portuguesa: o azulejo.
O
Museu Nacional do Azulejo dá a conhecer, através da sua exposição permanente, a
história do azulejo em Portugal, procurando chamar a atenção da sociedade para
a necessidade e a importância da proteção do azulejo. A exposição permanente
integra o património azulejar, objetos de cerâmica pertencentes às coleções do
Museu, organizados pelos três pisos do edifício, onde o visitante passa por
diversos espaços do antigo Convento da Madre de Deus, nomeadamente a Igreja, o
Coro-Alto, a Capela de Santo António e a Capela da Raínha D. Leonor,
conduzindo-o a uma viagem pela história do Azulejo em Portugal, desde finais do
século XV até à atualidade. Esta visita – para além de ter sido gratuita – foi
realizada para todo o público em geral, mediante inscrição prévia, e orientada
por uma voluntária do Museu, Maria Luísa do Vale.
Fonte: http://www.museudoazulejo.pt/Data/ContentImages/Igreja01.jpg
Fig.
1 – Igreja do Convento de Madre de Deus
Após
o acolhimento do público visitante na zona de receção e da bilheteira, o grupo
foi conduzido até à Igreja do Convento de Madre de Deus (ver Fig. 1), onde a guia contextualizou historicamente o Convento
de Madre de Deus, a Igreja, o fascínio do azulejo e como surgiu em Portugal,
entre outros, assim como informou sobre todas as indicações e restrições que se
deveria ter em atenção ao longo de toda a visita orientada, como a proibição do
uso de flash das máquinas
fotográficas e o não manuseamento ou toque nos azulejos, à exceção dos que eram
próprios para o efeito. Se, por um lado, a guia aproveitou o espaço da Igreja
que possui bancos para que os visitantes possam sentar e ouvir, de forma mais
confortável, toda a explicação e contextualização histórica, por outro lado,
foi um momento com demasiada informação transmitida, o que pode conduzir a uma
dispersão de atenção por parte do visitante ou a não assimilação total dos
conteúdos apresentados, sobretudo porque a projeção da voz da guia não era a
mais adequada para um espaço amplo e onde o eco e o ruído inevitável da parte
de outros visitantes do Museu são fatores inerentes e que exigem uma maior adaptação
e adequação da comunicação da guia.
O
Convento foi sempre alvo da melhor atenção e recebeu muita proteção da parte da
Casa e família real, tendo sido, por isso, intervencionado ao longo dos séculos.
A Igreja foi composta por azulejos, talha dourada em ouro verdadeiro
proveniente do Brasil e douramento nas molduras das pinturas que decoravam o
espaço e o Coro-Alto (ver Fig. 2).
Citando as palavras da guia, “o azulejo é como o bacalhau, faz parte da cultura
portuguesa: no entanto, a sua origem não é portuguesa, é árabe. Começou na era
da Mesopotâmia e foi no Islão que começou a ser transportado o azulejo para
outros países. (...) Os painéis de azulejos e a pintura destes terão surgido na
Holanda, a partir do séc. XVII, e terá sido aqui que foram criados os azulejos
da Igreja do Convento de Madre de Deus. Os azulejos portugueses eram diferentes
dos holandeses: os segundos possuíam um brilho branco e uma maior perfeição e
detalhe na pintura, com destaque para a utilização de um azul mais escuro.” (ver Fig. 2, à direita).

No início da exposição permanente encontra-se um pequeno núcleo e várias montras expositivas que demonstra e ilustra os materiais, as técnicas de manufatura do azulejo – a utilização de fornos a 1000ºC, a incisão, o alicatado, a aresta viva e a corda-seca – e alguns exemplares de objetos e painéis de azulejos e as suas respetivas pinturas e ilustrações. (ver Fig. 3). A partir do séc. XVII, surge o aparecimento da figura humana, pois até aqui só eram representadas formas abstratas.
Como se pode observar na Fig. 3, à direita, a
descrição das peças e dos objetos é realizada com uma linguagem acessível, com
uma definição dos conceitos e termos mais técnicos (como por exemplo, o termo
“chacota”), assim como o tipo e o tamanho de letra selecionados são legíveis. O
corpo de texto não é longo, é conciso e adequado, assim como existe uma
tradução do mesmo em inglês. No entanto, este cuidado textual nem sempre é
visível em toda a exposição. Apesar de serem escassas as situações, existem
algumas montras expositivas em que só existe texto em português, nomeadamente
na Sala Santos Simões, com a azulejaria barroca, no segundo piso. Toda a
restante exposição encontra-se devidamente legendada com o máximo de
informações possíveis, quer da própria peça (nome, motivo ou técnica utilizada
na peça, local de proveniência ou de origem, o seu ano e a inventariação da
peça na coleção), como também da contextualização histórica geral em painéis
expositivos nas paredes das salas, com tradução igualmente em inglês.
Fonte: Própria
Fig.
4 – Segundo Piso do Claustro
Após a visita ao pequeno núcleo, o percurso
expositivo segue uma organização cronológica. Da Capela de Santo António,
pode-se aceder ao segundo piso do claustro (ver
Fig. 4) e a primeira sala a visitar é composta pela produção de azulejaria
rococó, pombalina e neoclássica, constatando-se o regresso à policramia no
azulejo, com grandes composições figurativas cercadas por bordaduras
assimétricas. À saída desta sala, é possível seguir “A História do Chapeleiro” (ver
Fig. 5), um testemunho de um novo período da azulejaria portuguesa, que se
caraterizava pelo interesse da burguesia na encomenda de azulejos. Este
conjunto de 7 painéis narram a vida do chapeleiro António Joaquim Carneiro, um
rapaz pobre do campo que foi para a oficina do seu tio, em Lisboa, onde
aprendeu o ofício de chapeleiro. Posteriormente, abriu o seu próprio negócio
que vai tendo sucesso, casou com uma viúva com 5 filhos e construiu a sua
família, a sua fábrica e a sua quinta de residência. As diferentes cenas
inscrevem-se num medalhão oval limitado por um friso de flores e com uma faixa
com a indicação do episódio, destacando-se de um fundo branco com uma
composição de ramos e pássaros com dois cestos de flores colocados nas laterais.
Fonte: Própria
Fig.
5 – “A História do Chapeleiro” (1790-1800)
Ao longo das paredes de duas das alas que
rodeiam o segundo piso do claustro, encontram-se expostas as restantes
produções dos séculos XIX e XX, com a introdução de novas técnicas e com
produções industriais e semi-industriais de azulejos. (ver Fig.6).
À saída do claustro, sobe-se ao piso três, local
onde se pode contemplar o “primeiro painel” do museu, a “Jóia da Coroa”,
designada por “A Grande Vista de Lisboa”,
um painel que descreve e ilustra a cidade de Lisboa antes do terramoto de 1755.
(ver Fig. 7). No painel, Lisboa
encontra-se representada e identificada desde o Convento de Madre de Deus até à
Torre de Belém. Neste piso, a guia termina a sua visita orientada, explicando e
localizando as várias zonas de referência de Lisboa, e comparando como e o que
era antes do terramoto de 1755 e o que podemos encontrar nos dias de hoje, após
este fenómeno histórico.
Fonte: Própria
Fig.
7 – “A Grande Vista de Lisboa”, primeiro painel do Museu
A
exposição permanente do Museu Nacional do Azulejo é bastante interessante e
apelativa, especialmente com a orientação de um guia. A realização desta visita
de forma livre não oferece sequer metade da informação e dos conteúdos que
foram transmitidos ao longo da visita guiada. Porém, existem pequenos detalhes
que melhorariam as condições e a qualidade da visita. O recurso de mais painéis
explicativos e descritivos das épocas, dos espaços do Convento e dos painéis de
azulejos também permitiriam uma melhor assimilação das informações e dos
conteúdos abordados, assim como os visitantes do Museu que optem pela visita
livre e sem orientação, adquiram também alguns destes conhecimentos. A
apresentação das condições e das restrições ao longo da visita – como por
exemplo, fotografar sem flash, pisar apenas o tapete na sala do Coro-Alto ou
não tocar nos painéis de azulejos – são apenas informadas pela guia, não
havendo nenhum painel com estas informações, pelo que os visitantes que optem
pela visita livre não têm conhecimento destas regras. Sendo um Museu do
Azulejo, com vários painéis de azulejos expostos nas paredes, alguns destes com
diferentes formas, texturas e relevos, sem estarem protegidos com alguma
vitrina, os visitantes vão ter a tendência natural de querer tocar e sentir
estas caraterísticas dos azulejos, quando, na realidade, é uma restrição enumerada
pelo guia. A sinalização do percurso expositivo também não estava bem delineado
e identificado, pelo que, mais uma vez, um visitante que opte pela visita
livre, não tem bem sinalizado qual o percurso expositivo que deve realizar,
tendo apenas uma ideia geral do possível percurso a partir das salas com as
diferentes azulejarias organizadas de forma cronológica.
Toda
a coleção, no geral, encontra-se bem iluminada e legendada, embora o texto
desta legenda pudesse ter um tamanho de letra ligeiramente maior ou os painéis
das legendas destacarem-se mais nas paredes, pois algumas destas legendas são
desproporcionalmente menores em relação ao tamanho da obra correspondente.
Algumas legendas e painéis explicativos possuem relevo com legendagem em
braille, porém, não são todas.
Relativamente
à acessibilidade do Museu, existem rampas de acesso e elevador, com acesso aos
três pisos do Museu. Porém, existem zonas com escadas que não possuem rampas de
acesso (como por exemplo, para aceder inicialmente à Igreja do Convento de Madre
Deus), um dos espaços principais e de visita do Museu. Também existem outros
espaços de lazer, como a cafetaria, a loja e as instalações sanitárias, com
recurso a figuras de convite, igualmente expostas e referenciadas durante a
visita.
O Museu Nacional do Azulejo é, sem dúvida, uma referência para e na
cultura portuguesa, assim como procura preservar, estudar, conservar e divulgar
exemplares representativos da evolução do Azulejo e da Cerâmica em Portugal. Considero
bastante pertinente e relevante a forma como este se apresenta ao público em
geral, assim como transmite conhecimentos e saberes sobre esta expressão
artística diferenciadora. Aconselho e recomendo a visita a este espaço
cultural.
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