sábado, 2 de janeiro de 2016

Exposição de Pintura: "Esperança/Hope" de Teresa Pessoa

Num dia solarengo, daqueles em que nos apetece caminhar e a brisa outonal como que nos acaricia a face, chego finalmente ao meu destino. No âmbito do Openday da Lx Factory, visitei a exposição “Esperança/Hope”, patente durante todo o mês de novembro e início do mês de dezembro de 2015.
Este projecto artístico é da jovem Teresa Pessoa, amiga e colega de curso, com quem tive o prazer de partilhar o gosto pela arte ao longo da licenciatura em Pintura. Natural de Setúbal, este projecto foi a sua segunda exposição de pintura a solo, marcada pela temática da religião.
A exposição, alojada no terceiro piso do Edifício 1, tem nas longas paredes cinza o intimismo e a nostalgia que a grande escala nos impõe. Entro e dentro do espaço não posso, nem por segundos, alhear-me da sensação de solidão e compaixão que impera.
À entrada, Teresa confronta-nos com a seguinte citação da sua autoria:
“A Humanidade está cansada, exausta até.”
Os corredores transformam-se em Claustros de Mosteiros, em fornos de Auschwitz, em ruas mouriscas, em cânticos gregorianos, em fileiras de Guerreiros de Terracota, em Deusas hindus, em Budas cintilantes…  
As pinturas de pequena e média dimensão apresentam-se algumas muito detalhadas outras mais figurativas. Não são obras de fácil interpretação ou compreensão, todavia encorajam o espectador a estar concentrado no mais ínfimo pormenor.
Ao visitante são apresentadas, numa primeira série, seis pequenas pinturas, a tinta da china e a tinta acrílica vermelha sobre papel, onde é possível visualizar a humilhação sofrida e vivida pelos personagens rabiscados. Representam, talvez, as penitências perpetradas nos Autos de Fé da maléfica Inquisição.
Prosseguindo, encontro uma série de pinturas de maiores dimensões que representam: marchas fúnebres, procissões, cenas do quotidiano na religião hindu e campos de concentração. A autora, para além do cristianismo, também colocou em destaque ritos e praticas religiosas ligadas ao islamismo e budismo.
Devido ao choque de cores, uma das pinturas que mais me marcou foi a intitulada: “Tradição 2”. Esta pintura descreve uma cena dum festival religioso na China, no qual os personagens vestem máscaras monstruosas.
No entanto, o que me prendeu o olhar e me despertou os sentidos foram as cores garridas, os fortes amarelos, azuis e encarnados usados nas pinturas a acrílico de grande escala e que contrastam com a simplicidade do branco e preto das gravuras. O papel meio amarrotado e o traço brusco e ousado demonstram a destruição e os erros que a humanidade se submeteu ao longo da história.
- Em nome de quem?
Nesta exposição a religião é encarada com uma certa ambiguidade, a crença como salvação da alma e como perversidade do ser humano.


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