Num
dia solarengo, daqueles em que nos apetece caminhar e a brisa outonal como que
nos acaricia a face, chego finalmente ao meu destino. No âmbito do Openday da
Lx Factory, visitei a exposição “Esperança/Hope”, patente durante todo o mês de
novembro e início do mês de dezembro de 2015.
Este
projecto artístico é da jovem Teresa Pessoa, amiga e colega de curso, com quem
tive o prazer de partilhar o gosto pela arte ao longo da licenciatura em
Pintura. Natural de Setúbal, este projecto foi a sua segunda exposição de
pintura a solo, marcada pela temática da religião.
A
exposição, alojada no terceiro piso do Edifício 1, tem nas longas paredes cinza
o intimismo e a nostalgia que a grande escala nos impõe. Entro e dentro do
espaço não posso, nem por segundos, alhear-me da sensação de solidão e
compaixão que impera.
À
entrada, Teresa confronta-nos com a seguinte citação da sua autoria:
“A
Humanidade está cansada, exausta até.”
Os
corredores transformam-se em Claustros de Mosteiros, em fornos de Auschwitz, em
ruas mouriscas, em cânticos gregorianos, em fileiras de Guerreiros de
Terracota, em Deusas hindus, em Budas cintilantes…
As
pinturas de pequena e média dimensão apresentam-se algumas muito detalhadas
outras mais figurativas. Não são obras de fácil interpretação ou compreensão, todavia
encorajam o espectador a estar concentrado no mais ínfimo pormenor.
Ao
visitante são apresentadas, numa primeira série, seis pequenas pinturas, a tinta da china e a tinta acrílica vermelha sobre papel, onde é
possível visualizar a humilhação sofrida e vivida pelos personagens rabiscados.
Representam, talvez, as penitências perpetradas nos Autos de Fé da maléfica Inquisição.
Prosseguindo,
encontro uma série de pinturas de maiores dimensões que representam: marchas fúnebres,
procissões, cenas do quotidiano na religião hindu e campos de concentração. A
autora, para além do cristianismo, também colocou em destaque ritos e praticas
religiosas ligadas ao islamismo e budismo.
Devido
ao choque de cores, uma das pinturas que mais me marcou foi a intitulada:
“Tradição 2”. Esta pintura descreve uma cena dum festival religioso na China, no
qual os personagens vestem máscaras monstruosas.
No
entanto, o que me prendeu o olhar e me despertou os sentidos foram as cores
garridas, os fortes amarelos, azuis e encarnados usados nas pinturas a acrílico
de grande escala e que contrastam com a simplicidade do branco e preto das
gravuras. O papel meio amarrotado e o traço brusco e ousado demonstram a
destruição e os erros que a humanidade se submeteu ao longo da história.
-
Em nome de quem?
Nesta
exposição a religião é encarada com uma certa ambiguidade, a crença como
salvação da alma e como perversidade do ser humano.
Sem comentários:
Enviar um comentário