Vilém Flusser foi um escritor, jornalista e filósofo oriundo da República Checa mas que viveu uma grande parte da sua vida em São Paulo (tendo-se tornado num cidadão brasileiro), cidade onde começou a publicar alguns trabalhos, muitos deles em portugês. Não sendo um “homem da academia”, Flusser dedicou, apesar de tudo, grande parte do seu trabalho à filosofia, com ênfase na filosofia da comunicação e dos media e da produção artística (design).
Para Flusser, a comunicação escrita surge como objeto para compreensão do homem e da sociedade. A sua génese representou um salto no desenvolvimento das sociedades modernas. Abandonando a tradição oral, permitiu a fixação e a difusão do conhecimento, por meio da sistematização do pensamento, naquilo que hoje denominamos como cultura letrada ou “consciência histórica”. Esta consciência surge da articulação e produção do gesto de escrever.
Numa entrevista em Budapeste, Flusser aprofunda e explica a forma como a escrita e o texto foram inicialmente usados como forma para destruir imagens. Pegando nos elementos de uma imagem (pixels ou pictogramas), é possível estendê-los numa linha e explica-los, contá-los, recontá-los, critica-los e finalmente, afastar (ou destruir) a imagem. É esta a relação original entre o texto e a imagem: o texto avançou em direção às imagens para que pudesse, ao mesmo tempo, explica-las e expulsa-las.
Para Flusser, a comunicação escrita surge como objeto para compreensão do homem e da sociedade. A sua génese representou um salto no desenvolvimento das sociedades modernas. Abandonando a tradição oral, permitiu a fixação e a difusão do conhecimento, por meio da sistematização do pensamento, naquilo que hoje denominamos como cultura letrada ou “consciência histórica”. Esta consciência surge da articulação e produção do gesto de escrever.
Numa entrevista em Budapeste, Flusser aprofunda e explica a forma como a escrita e o texto foram inicialmente usados como forma para destruir imagens. Pegando nos elementos de uma imagem (pixels ou pictogramas), é possível estendê-los numa linha e explica-los, contá-los, recontá-los, critica-los e finalmente, afastar (ou destruir) a imagem. É esta a relação original entre o texto e a imagem: o texto avançou em direção às imagens para que pudesse, ao mesmo tempo, explica-las e expulsa-las.
Encontramos alguns exemplos do desdobramento das imagens em linhas nas antigas cerâmicas da Mesopotâmia (ca. 3500-3000 B.C.)
Flusser observa que os símbolos da escrita cuneiforme procuravam decifrar as imagens e que houve um processo gradual (accionado por vários processos sociais) que começou na imagem e acabou no texto, tal como o conhecemos hoje.
Flusser observa que os símbolos da escrita cuneiforme procuravam decifrar as imagens e que houve um processo gradual (accionado por vários processos sociais) que começou na imagem e acabou no texto, tal como o conhecemos hoje.
"The “cuneiform” symbols form lines, and they obviously mean the image they accompany. They “explain,” “recount,” “tell” it. They do so by unrolling the surface of the image into lines, by unwinding the tissue of the image into the threads of a text, by rendering “explicit” what was “implicit” within the image. It may be shown through text analysis that the original purpose of writing, namely, the transcoding of two-dimensional codes into a single dimension, is still there: every text, even a very abstract one, means, in the last analysis, an image."
Podemos dizer que anteriormente ao aparecimento da escrita, com o domínio da imagem, a humanidade vivia numa era pré-histórica. Uma imagem que mostra uma situação torna-se, paradoxalmente, opaca à situação porque esconde o que está a tentar mostrar. Mais facilmente explicado em alemão: “das Billd stellt sich vor das, was es worstellt”. Quando a imagem é um véu que esconde o seu próprio significado, gera-se uma consciência mágica (a magia pode ser definida como uma atitude) onde em vez de usarmos as imagens para nos orientarmos no mundo, o mundo passa a orientar-se pelas imagens.
Aqueles que, com a escrita, passaram a usar os textos para compreender o mundo desenvolveram uma perspectiva linear, onde o tempo flui de forma irreversível. Para o filósofo, esse é o mundo da ciência e da tecnologia, das religiões e da política, o mundo histórico. (Flusser, 2002, p.64-65). Esta nova consciências só se tornou acessível a uma burguesia em ascensão depois de Gutenberg e durante a revolução industrial. Quando, através do sistema de ensino primário e da alfabetização, o mundo se tornava plenamente imerso na consciência histórica, uma novo tipo de imagem vinha abalar de novo a sociedade: a fotografia.
Podemos dizer que anteriormente ao aparecimento da escrita, com o domínio da imagem, a humanidade vivia numa era pré-histórica. Uma imagem que mostra uma situação torna-se, paradoxalmente, opaca à situação porque esconde o que está a tentar mostrar. Mais facilmente explicado em alemão: “das Billd stellt sich vor das, was es worstellt”. Quando a imagem é um véu que esconde o seu próprio significado, gera-se uma consciência mágica (a magia pode ser definida como uma atitude) onde em vez de usarmos as imagens para nos orientarmos no mundo, o mundo passa a orientar-se pelas imagens.
Aqueles que, com a escrita, passaram a usar os textos para compreender o mundo desenvolveram uma perspectiva linear, onde o tempo flui de forma irreversível. Para o filósofo, esse é o mundo da ciência e da tecnologia, das religiões e da política, o mundo histórico. (Flusser, 2002, p.64-65). Esta nova consciências só se tornou acessível a uma burguesia em ascensão depois de Gutenberg e durante a revolução industrial. Quando, através do sistema de ensino primário e da alfabetização, o mundo se tornava plenamente imerso na consciência histórica, uma novo tipo de imagem vinha abalar de novo a sociedade: a fotografia.
A fotografia, que começou a ameaçar a supremacia da escrita, adivinhavam que os dias do pensamento histórico, racional e conceptual estavam contados, como se estivéssemos a aproximarmos-nos de um novo tipo de idade mágico-mítica, uma cultura de imagem (idolatria) pós-histórica (Flusser, 2002, p.66).
Não pretendo com esta publicação discutir que novas dinâmicas esta inovação trouxe para a história. É certo que elas são importantes e Flusser não nos deixa nada a desejar a esse respeito. Estudando o seu legado, ele diz-nos que este novo tipo de imagens é diferente dos seus predecessores pré-históricos, na medida em que são produtos de textos, mas também porque se alimentam de textos. São produtos da história. A diferença essencial entre um programa de TV e uma tapeçaria não é (como se poderia imaginar) que o primeiro se mova e fale enquanto a outra permanece imóvel e muda, mas que o programa de TV é o resultado de teorias científicas (textos) e precisa de textos para que funcione. Flusser apelida esta nova imagem de "imagens técnicas”.
Resumindo, as imagens pré-históricas significam o mundo, as imagens pós-históricas significam os textos; a imaginação pré-histórica tenta pegar no mundo e a imaginação pós-histórica tenta ser ilustração de um texto.
Apesar de Flusser ter falecido no amanhecer de uma nova era digital, viveu tempo suficiente para se aperceber em que direção estávamos a caminhar. É interessante fazermos hoje uma análise sobre o futuro da escrita num mundo cada vez mais repleto de imagens. Parece ser cada vez mais difícil acreditar em acontecimentos que não tenham sido fotografados; o mundo finge que não vê o que não vê e são as imagens que causam os eventos. Se decidirmos que a escrita cria a história e a fotografia cria a pós-história, resta-nos saber de que forma a escrita se posiciona neste novo contexto.
Não pretendo com esta publicação discutir que novas dinâmicas esta inovação trouxe para a história. É certo que elas são importantes e Flusser não nos deixa nada a desejar a esse respeito. Estudando o seu legado, ele diz-nos que este novo tipo de imagens é diferente dos seus predecessores pré-históricos, na medida em que são produtos de textos, mas também porque se alimentam de textos. São produtos da história. A diferença essencial entre um programa de TV e uma tapeçaria não é (como se poderia imaginar) que o primeiro se mova e fale enquanto a outra permanece imóvel e muda, mas que o programa de TV é o resultado de teorias científicas (textos) e precisa de textos para que funcione. Flusser apelida esta nova imagem de "imagens técnicas”.
Resumindo, as imagens pré-históricas significam o mundo, as imagens pós-históricas significam os textos; a imaginação pré-histórica tenta pegar no mundo e a imaginação pós-histórica tenta ser ilustração de um texto.
Apesar de Flusser ter falecido no amanhecer de uma nova era digital, viveu tempo suficiente para se aperceber em que direção estávamos a caminhar. É interessante fazermos hoje uma análise sobre o futuro da escrita num mundo cada vez mais repleto de imagens. Parece ser cada vez mais difícil acreditar em acontecimentos que não tenham sido fotografados; o mundo finge que não vê o que não vê e são as imagens que causam os eventos. Se decidirmos que a escrita cria a história e a fotografia cria a pós-história, resta-nos saber de que forma a escrita se posiciona neste novo contexto.
Referências:
Flusser, Vilém. The future of writing. In: Writings. Lon- dres: University of Minnesota Press, 2002.
Prata, Carmem. A escrita no pensamento de Vilém Flusser. Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM), 2015.
Prata, Carmem. A escrita no pensamento de Vilém Flusser. Revista Brasileira de História da Mídia (RBHM), 2015.
https://youtu.be/SPwAHxzuznU
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