“Alienação”
A caminho das Belas Artes, mais precisamente na Rua Bernardino Costa, para quem vem de barco ou comboio para a faculdade, e também para quem volta, somos surpreendidos por uma cena invulgar num bar.
Na montra, sentado de perfil, encontra-se o esqueleto de um animal com o rabo preso, o que à primeira vista parece ser um rato. Paro, surpreendida pela estranheza. O que faz ali um esqueleto? O bar está fechado, estará a ser usado para outros fins? Sigo o meu caminho. Aquela imagem forte e intrigante não me sai da cabeça...
Num outro dia, no mesmo percurso, desperta-me a atenção um cocar índio na montra do mesmo bar. É um cocar índio tipicamente americano. No entanto o que mais chama a atenção são as suas penas que parecem acabadas de sair de Hollywood. Ao observarmos mais atentamente, salta-nos a vista o padrão impresso sobre as mesmas, que retrata uma figura indígena selvagem ideal, a fumar um cachimbo. O título da obra – “American Spirit”. Sigo para as aulas. De volta, observo outra vez o cocar com mais atenção. Paro por alguns instantes, faço um retrato de cabeça da sua imagem. Uma palavra surge na minha mente com força – “Alienação”. Sigo para apanhar o comboio.
Durante o dia, nesta galeria insólita, encontro a empregada de limpeza no interior. Procuro saber mais sobre esta iniciativa Quem serão os artistas? Estão sempre a mudar as exposições, - diz a senhora, não sei de nada!... Só consigo saber mais através do currículo que está exposto na parte de fora junto à montra do lado direito. No dia seguinte o cocar já não está mais lá. De um certo modo fico triste, já estava a habituar-me.…. Fui a procura de mais informações. O cocar é de João Pedro Vale, e é feito com cartão, corda, plástico, cigarrilhas, ferro e perucas. As penas são feitas em cartão estampado no que aparenta ser o papel da caixa dos cigarros da marca "American Spirit". Quanto ao esqueleto, é uma obra de Maria José Oliveira e o título é “Macaco Fiel.”
Na semana seguinte, encontro obras expostas de Julião Sarmento e Júlio Pomar. Interessante...
Figura 1- OLIVEIRA, Maria José, “Macaco Fiel”, Agosto 2017![]() |
Figure 2 – VALE, João Pedro, “American Spirit (Brown)”, 2011, Fonte: www.joaopedrovale.com/jpv.aspx?Lang=PT&ID=m02_201000840138 |

Figure 3 - VALE João Pedro, “American Spirit (Brown)”, 2011, Fonte: www.picstoc.com/media/1635014085073367064_415561971 |

Figure 4– Rótulo Cigarro “American Spirit”, Novembro, 2017, Fonte: www.pinterest.pt/pin/501869952211114565/ |
Este é um projeto de Pedro Cabrita Reis, as obras são escolhidas por ele, que escolheu também o British Bar porque era onde passava muitas horas. Começou a fazer do British Bar um dos seus lugares de eleição quando ainda era aluno da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
Passava lá horas sozinho ou à conversa com amigos, boas horas, sempre a olhar para o rio e para a rua através das vidraças que marcam a fachada desta casa com mais de 100 anos no Cais do Sodré. O trânsito humano da praça, as pessoas que entram, umas para ver futebol, outras para tomar um copo ou fazer uma refeição nem sempre rápida, interessam a este artista.” (...) “Os espaços convencionais não me interessam. O que quero é fazer coisas fora da caixa, capazes de apanhar as pessoas que gostam de arte e, neste caso, as que só querem beber um copo ou ver um jogo. (ionline.sapo.pt/580869)
Exposições, num espaço invulgar e perto da escola. Para alguns, as suas peças convidam a entrar, parar e refletir na correria dos nossos dias. Para outros, é apenas mais um bar para irmos ver o futebol.
Nas montras do British Bar, em Lisboa, a não perder.
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