segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Gusto Alves da Silva e João Queiroz Ciclo dedicado à coleção de António Cachola


1.1  - Contexto da Galeria:


Antes de começar a desenvolver uma recensão sobre a exposição “Augusto Alves da Silva e João Queiroz”, ciclo dedicado à coleção António Cachola, principal propósito deste trabalho, devo procurar descrever, sumariamente, o que constituiu a criação do espaço Chiado 8, a sua história, contexto e objectivos.
O “Espaço Fidelidade Arte Contemporânea – Chiado 8”, sediado no edifício da Fidelidade Companhia de Seguros, do Largo do Chiado, “foi inaugurado em janeiro de 2002, com o objectivo de participar nas iniciativas de reabilitação do Chiado, através da criação de um espaço de divulgação de arte contemporânea”[1].
O espaço, que ocupa o terminus,  imediatamente posicionado à entrada do piso térreo do edifício, é composto por três salas, não de grande dimensão, e que se desenvolvem em v. Neste espaço tem vindo a ser exposto o trabalho de muitos artistas com expressão na arte contemporânea. “A iniciativa consiste em precisamente promover o reconhecimento dos talentos portugueses”[2].

Desde 2002 têm vindo a ser muitos os artistas que têm exposto neste espaço: José Manuel Rodrigues, Urbano da Cruz, Álvaro Siza Vieira, Pedro Casqueiro, Lourdes Castro, Gonçalo Barreiro, Pedro Sousa Vieira, Renato Ferrão, Luis Amado, Ana Santos, Pedro Morais, Ricardo Jacinto, Isabel Pavão, Vítor Pomar,Joana Rego, Gerad Castelo Lopes, Costa Pinheiro, Alberto Carneiro, Cristina Ataíde, Luisa Cunha, Ivo Ribeiro, Augusto Alves da Silva, João Moreno, Ida David, Albuquerque Mendes, Jan Voss, René Bertholo, Base Litz, Nikias Skapinakis, René Bertholo, Penk, Jorge Jorge Galindo, Luisa Correia, André Guedes, André Sousa, João Queiroz, José Loureiro, Leonor Antunes, Alexandre Estrela, Ana Jotta, Francisco Tropa, Leonor Antunes , Alexandre Estrela,Jorge Molder, Cruz Filipe, Sónia Almeida e Rui Toscano, João Penalva, Fernando Brito, Pedro Croft.

2.1 - Vida e Obra dos Artistas:

Augusto Alves da Silva tirou o curso de Engenharia Civil no IST - Instituto Superior Técnico entre 1981 e 1984. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian onde realizou uma Licenciatura em em Fotografia no London College of Printing em 1989 e um Mestrado em Belas-Artes com especialização em Media na Slade School of Fine Art em Londres. (Lisboa, 1963) Vive e trabalha em Lisboa)

João Queiroz começou a expor pintura e desenho na primeira metade dos anos 80, enquanto estudava Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. Ambos os interesses convergiram na sua obra, levando a cabo uma informada reflexão sobre o papel da imagem na contemporaneidade, em abordagens experimentais a problemas antigos da linguagem da arte, tanto ao explorar o potencial das palavras escritas em composições, como, a partir de 1998, ao procurar dar a ver representações sensoriais e não-descritivas da natureza. Foi docente de Desenho, Pintura e Teoria de Arte no Ar.Co (1989-2001). Vive e trabalha em Lisboa[3].




“Ist”,1999. 50 fotografias a cores, R-3. Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento[4]

3.1  - A Obra Exposta

A primeira sala da exposição é ocupada com alguns desenhos de João Queiroz, em técnica mista. Já antigos, datam da década de 90. Os desenhos parecem ser um permanente “retorno generoso à paisagem” (Marmeleira, 2010)[5], e aludem à exposição “Silvae”, do autor, na Culturgest, em 2010. O lápis de carvão, de cor ou guache nos desenhos de João Queiroz parecem justificar uma coerência do artista às suas técnicas e modelos. De facto o tempo em que foram feitos não comprometem a sua posição em relação à arte. Segundo Ricardo Nicolau, Queiroz “não é um artista difícil de identificar. Está muito longe de ser camaleónico, em termos estilísticos”[6] e por esse motivo a obra de Queiroz, entendida como metodologicamente sistemática, não se apresenta como uma ruptura ao que foi, mas sim a um permanente ajustamento, a um possível aperfeiçoamento com os seus princípios.
Num processo em que a arte pode também ser uma “reescrita”, uma obra aberta que cria, nas palavras do pintor, “novas sensibilidades”[7]
Da mesma maneira, e de modo a fazer a ligação entre a sua pintura e a fotografia de Augusto Alves da Silva, na sala seguinte, os dois artistas parecem manifestar, na sua prática artística, embora em diferentes suportes, uma mesma alusão à política, com o recurso à paisagem. Ainda Nicolau revela sobre Queiroz: “porque lhe interessou desrespeitar o estabelecimento das categorias e das hierarquias que sempre orientaram não só aquele género histórico mas toda a nossa relação com a natureza e, mais genericamente, fortemente associada à ideia de subjugação. Se quisermos, talvez, por isso, e contra todas as expectativas, a sua prática art de Augusto Alves da Silva  xpernentemente polas as experctativas, a sua prte associada s. ística já tenha sido apresentada como iminentemente política"[8]
As fotos de Augusto Alves da Silva ligam-se tematicamente a Queiroz pela paisagem e ajudam no  trajeto da exposição. Ocupando a sala do meio, de planta rectangular, as fotografias, em grande formato apresentam a repetição de uma paisagem edílica campestre e que só difere na luz e na hora ou dias em que são tiradas.
Elas enfatizam o lugar em que, em 2003, Durão Barroso recebia Blair, Bush, Asnar. Os Açores. Essas mesmas paisagens evocam a paz nos açores, em que nada acontece e que, por isso, e por se verificar o contraste, foi mesmo nesse lugar, longe de tudo, que foi decidido o início da Guerra com o Iraque.
As fotos penduradas sobre as paredes parecem repetir-se, mudam, no entanto, nas condições de luz em que são fotografadas. A repetição das imagens ajuda assim a enfatizar o lugar onde, embora o tempo passe, nada acontece.
A última sala, mais estreita, culmina com duas pinturas a óleo, em grande escala de João Queiroz, como que se quisesse encerrar ou entrincheirar a vulnerabilidade do tema de Alves da Silva. De novo a paisagem, mas agora sobre tela.

Atribui uma pausa: “Devolve ao espectador um olhar silencioso sobre os pequenos acontecimentos da natureza”[9], porem, inquietaste.
Para quem ainda entra na sala sob o efeito das apoquentações do mundo. Há exposições “diz-nos novamente Marmeleira, onde nos podemos perder, sem receios, acompanhados apenas pelo corpo das obras”. (…) Uma floresta na qual se vislumbram paisagens, arbustos, árvores e outros motivos”.(Marmeleira, 2010)





[1] MARMELEIRA, J. (2010) “Todo o corpo vê na pintura de João Queiroz” https://www.publico.pt/2010/10/13/culturaipsilon/noticia/todo-o-corpo-ve-na-pintura-de-joao-queiroz-267244




[1] Informações retiradas da fonte: http://fidelidade-sustentabilidade.pt/chiado-8-arte-contemporanea/
[2] idem, ibidem
[3] https://dasculturas.com/2013/10/13/biografia-joao-queiroz/
[4] http://www.projectomap.com/artistas/augusto-alves-da-silva/
[5] MARMELEIRA, J. (2010) “Todo o corpo vê na pintura de João Queiroz”, https://www.publico.pt/2010/10/13/culturaipsilon/noticia/todo-o-corpo-ve-na-pintura-de-joao-queiroz-267244
[6] Informações retiradas da fonte http://www.culturgest.pt/docs/jq_chiado8.pdf
[7] idem, ibidem
[8] idem, ibidem

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Cidade Gráfica - Letreiros e reclames de Lisboa no século XX

   
Figura 1: Cidade Gráfica. 
Fonte: http://www.thegentlemansmail.com/2016/11/exposicao-cidade-grafica-letreiros-reclames-lisboa-no-seculo-xx/


A exposição temporária denominada “Cidade Gráfica”, estabelece-se em Lisboa, mais precisamente no Convento da Trindade e foi organizada pelo Museu MUDE.

   Nos corredores do convento, recorda-se o que foi o retrato urbano da cidade até há bem pouco tempo, numa perspectiva cultural. Os elementos gráficos, recolhidos com precisão, reflectem a evolução com incidência no contexto histórico, social e cultural da altura.

   Além da consciência pela perspectiva, sobre como a cidade se apresentava, entende-se o ponto de vista da arte e do design, a sua interferência e envolvimento na arquitectura e urbanismo. A presença destes letreiros luminosos eram uma referência estética, assumindo a composição na ilustração de postais de visita da cidade. Hoje, permanecem vestígios dessa história, mas pelo encerramento das lojas, a reabilitação urbana e a evolução do design e publicidade, a herança dos letreiros acaba esquecida e só, em alguns públicos, permanece acesa nas memórias mais antigas.

   O efeito visual existente nas ruas da capital Lisboeta traduzia o pensamento intelectual que se vivia na época, bem como a componente técnica que era desenvolvida. Actualmente, já não é mais um elemento gráfico que compõe as fachadas dos edifícios. Hoje, os letreiros contam a história das vivências de outrora, alcançado o título de património cultural.

   A exposição conta com 70 peças expostas e a divulgação dos desenhos técnicos, tal como fotografias de letreiros desaparecidos, anteriores à era néon.


Figura 2: Letreiros metal e néon
Fonte: https://www.almostlocals.com/exposicao-cidade-grafica-reune-antigos-letreiros-de-lisboa/

Figura 3: Letreiros em vidro
Fonte: https://www.almostlocals.com/exposicao-cidade-grafica-reune-antigos-letreiros-de-lisboa/

Figura 4: Letreiro em néon, sala das grandes escalas
Fonte: https://www.almostlocals.com/exposicao-cidade-grafica-reune-antigos-letreiros-de-lisboa/


   Um dos pontos altos da exposição, para além da diversidade de letreiros, diferenciando-se pelas cores, os materiais, que vão desde o vidro, metais e néons, a liberdade na aplicação de tipos de letra e a grande escala das peças, são os desenhos técnicos. É enriquecedor para o visitante da exposição, ver como se apresentam os letreiros na composição da forma e na construção da fonte. Estes desenhos demonstram o processo de execução e elaboração do letreiro. A precisão e a noção de escala, a partir de um desenho cingindo ao tamanho standard de uma folha A3 ou A4, revela a excelência e rigor do trabalho. Como sala de maior contemplação e atracção na exposição é, sem sombra de dúvida, a sala das grandes escalas, por todo o trabalho desenvolvido e a técnica na construção.

   Para o visitante, não é apenas o fim da obra e a sua contemplação que suscita interesse, mas o processo a que foi alvo, a obra em si mesmo, onde, tudo era projectado e pensado pelo método de representação.

   A mística das luzes dos néons que guiavam, iluminando o caminho pela cidade, causa em quem viveu de perto essa magia, uma certa nostalgia.


   A exposição vai poder ser visitada até dia 18 de Março e 2017, abrindo as portas de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. A entrada é livre.

CASA DA MÚSICA

Fotografia por Marta Delgado.

Janeiro, o último repouso dos dias frios até findarem e dar-se o ressuscitar da primavera. O lugar é a cidade do Porto. Passeio pela Avenida da Boavista. Há qualquer coisa de diferente aqui, uma espécie de espontaneidade a pairar em tudo o que observo e que toca os meus sentidos. No restaurante, servem-me um prato de bacalhau com batatas fritas às rodelas e um copo de vinho verde. Um prato não, isso é em Lisboa! Uma travessa! Aqui come-se bem. As pessoas são amáveis e olham-nos nos olhos quando falam connosco. As casas de comércio e habitação, apresentam-se como um misto entre o velho e o novo, envolvidas por um certo mistério que comove com mais intensidade o turista, de certo.

De repente, uma espécie de pedra da calçada bicuda e afiada na base, gigante e imponente, surge no meu caminho. Parece ter sido enfiada com brusquidão no solo de que se apropria. Nela aparece esculpido um nome, CASA DA MÚSICA.
As suas escadas elegantes, assemelham-se à entrada de uma nave espacial, daquelas que vemos nos filmes. Tudo parece bastante modernizado. Não criei grandes expetativas, a avaliar pelo grande número de propostas culturais de vanguarda, presentes na contemporaneidade portuguesa, que ao desejarem marcar a diferença, acabam por cair na banalidade.
Entrei e fui ter a uma espécie de café/restaurante, onde tocava uma banda de Jazz. Esta primeira experiência dentro do edifício foi algo de sublime. Sentei-me num dos lugares perto do palco e ouvi um pouco do espetáculo. Enquanto bebia um café quente, entrava pelos meus ouvidos um som tranquilo e sensual. Foi como uma espécie de terapia para a alma, aliás, a música tem esse poder.
Entretanto, segui uma das guias que acompanham os grupos em visitas guiadas. Começámos por explorar a Sala Suggia. Segundo as palavras da guia, aqui, fazem-se todo o tipo de concertos musicais, a sala está preparada para isso. Os seus elementos, permitem a acústica necessária a todos os tipos de som. Em vários cantos, encontramos vidros ondulados que fazem refletir o som. O espaço é enorme e apresenta diferentes janelas de vidro, de onde se pode ver a cidade, assim como outros espaços do edifício. Devido a estas janelas, toda a sala absorve luz natural, assim, a música cresce iluminada. Os assentos das cadeiras da plateia, deslizam para trás e para a frente, evitando o desconforto de nos termos que levantar se o vizinho do lado quiser passar. Ao que parece, estas cadeiras são mesmo mágicas. Quando os músicos ensaiam e não têm público, são elas que fingem sê-lo. Os materiais de que são feitas permitem simular a presença de público em 75% dos lugares existentes.
Parte das paredes está revestida por um padrão dourado, de formas onduladas, homenageando a talha dourada portuguesa. Outra parte é alumínio, um material frio, pouco utilizado neste tipo de contextos, porém, este, ajuda a refletir a luz exterior para o interior. Toda a composição acaba por ser harmónica, surpreendentemente estas combinações, à partida incomuns, aparecem genialmente combinadas, transformando Suggia, numa sala deslumbrante.
Suggia! Que raio de nome!... Pois é. A sala foi batizada com este nome em homenagem à violoncelista natural do Porto, Guilhermina Suggia.
Mas o pai da pedra gigantesca que visito, Rem Koolhaas, não se ficou por aqui.
Avançamos agora para outro auditório, desta vez, verifico que é bem mais pequeno. Nele, fazem-se na maioria dos casos ensaios para os espetáculos. As paredes são vermelhas para estimular o movimento e aqui, tudo se pode trocar de lugar, consoante a vontade dos artistas. É uma espécie de construção de legos.
Damos mais uns passos e entramos numa sala, conhecida por Sala VIP. Segundo a guia, é uma espécie de cartão de visita da Casa da Música, onde se podem realizar reuniões e conferências para grupos pequenos. As paredes estão cobertas com azulejos, mas o azul que os coloriu é o típico azul do azulejo holandês. Foi assim que a Viúva Lamego quis deixar a sua marca, reforçando uma característica importante do projeto da Casa, que passa por homenagear as duas cidades capitais europeias da cultura em 2001, Lisboa e Roterdão.
Segue-se o Bar Suspenso. Sim, está mesmo suspenso. Olho para o chão, é de vidro transparente, consigo ver o andar de baixo e dá a sensação que a qualquer momento é lá que vamos parar. Um pesadelo para quem sofre de vertigens, felizmente não é o caso. Mais uma vez, a parede é de vidro e apresenta-nos outra vista para a cidade. Todavia, avisto um elemento que perturba a paisagem que observo, um edifício da EDP construído ali mesmo à frente. A guia explica que foi implementado após a edificação da Casa da Música. Pobre Rem Koolhaas!
Continuamos a percorrer este espaço enorme da Casa, de repente, qual não é o meu espanto, quando conforme o ritmo do meu andar começa a tocar a “No Surprises” dos Radiohead. Ainda anteontem tinha ouvido esta música, adoro-a. Comecei a dar passos mais rápidos e consoante isto, surge outra música. Ok. Não é nada vindo do além, mas sim um sensor que faz tocar diferentes músicas consoante os nossos movimentos.
Bem, e parece que a Casa da Música também gosta de cores. Passei pela Sala Roxa, onde o teto é almofadado e as paredes são feitas de borracha de pneus reciclada. Normalmente, costuma ser palco para atividades com crianças. Apresenta uma janela de vidro com vista para a sala Suggia, que possibilita aos mais novos escutarem a música que lá está a tocar, enquanto vão participando em brincadeiras relacionadas com o que ouvem. Ah! A sala é roxa para estimular a calma nos mais pequenos.
Há ainda a Sala Verde e a Sala Laranja, são mais salas destinadas a atividades, umas para os mais novos, outras para os mais velhos.

A visita termina e eu fico triste. Por mim, ficava aqui a sonhar mais um bocado. Neste sitio, não há razões para aborrecimento. Aqui vive-se. 
Nunca pensei gostar tanto de uma pedra gigante, exteriormente tão sem graça, intimamente tão estonteante.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Exposição Plasticus Maritimus

-Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal  


Figura 1: Cartaz de divulgação da exposição
Plasticus Maritimus.
Fonte: http://www.cm-cascais.pt/evento/plasticus-maritimus

Uma sociedade dominada pelo consumo e por uma constante necessidade de adquirir novos bens materiais, tem vindo a criar graves problemas ambientais que prejudicam todo o nosso planeta e quem nele habita.
80 por cento do lixo no mar é plástico, material que para além dos efeitos nocivos nas espécies animais, tem uma elevada durabilidade provocando danos por longos períodos de tempo. O plástico foi criado à cerca de 100 anos, mas na última década foi produzida a maior quantidade de sempre.

No dia 16 de novembro de 2016, a Câmara Municipal de Cascais assinalou o Dia Nacional do Mar, com a reabertura do Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, e com a inauguração da exposição Plasticus Maritimus, de Ana Pêgo.   
Com o objetivo de chamar a atenção para a proliferação do plástico no mar, a exposição retrata uma nova “espécie” exótica e invasora que se tem vindo a infiltrar em todos os oceanos e praias do mundo. Os visitantes são convidados a verem com os próprios olhos o que acontece ao plástico que usamos no dia-a-dia, e convidados a refletir sobre as suas atitudes e a mudar comportamentos. Tal como num Museu de História Natural, a exposição é apresentada sob a forma de coleções, ou, em alguns casos, por conjuntos de cores.


Figura 2: Plasticus Maritimus. 
Fonte: http://www.wilder.pt/historias/ana-da-vida-
ao-plastico-que-chega-as-praias-de-cascais/
Preocupada com a falta de informação acerca da temática do lixo marinho, e pela fraca noção de algumas pessoas em relação à quantidade de lixo e de objetos que vão parar ao mar e às nossas praias, Ana Pêgo apresenta uma pequena amostra das capturas que realizou ao longo de um ano nas praias de Cascais. Apanhou os mais variados tipos de plástico formando coleções que apresenta em várias vitrines. Isqueiros, tampas e tinteiros HP de um contentor que caiu ao mar em 2014, são alguns dos objetos que fazem parte da exposição. O plástico é convertido em arte para nos fazer pensar sobre o presente e o futuro dos oceanos. Um inventário de lixo artístico ganha vida graças a um jogo de tamanhos, formas e cores. Segundo a autora, a união entre a ciência e a arte resulta porque o conhecimento científico torna-se muito mais apelativo uma vez abordado de forma lúdica.

A exposição estende-se ao paredão de Cascais na zona adjacente ao túnel de entrada para o parque Palmela, e estará aberta ao público até 16 de maio de 2017.


Figura 3: Exposição no Paredão D’as Artes. 
Plasticus Maritimus. 
Fonte: http://www.wilder.pt/historias/ana-da-vida-ao
-plastico-que-chega-as-praias-de-cascais/
A sensibilização ambiental dominante na exposição, ensina ao visitante uma valiosa lição de que devemos Recusar e Reduzir o uso de plásticos sempre que possível, Reutilizar e Reciclar, porque o que parece lixo pode ganhar uma nova vida.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O Museu De Imagens do Inconsciente

No Brasil, no bairro de Engenho de Dentro no Rio de Janeiro, localiza-se o Museu de Imagens do Inconsciente, criado pela psiquiatra Dr Nise da Silveira.

O seu acervo consiste nas obras dos participantes do Ateliê de pintura que funcionava dentro do hospital psiquiátrico Pedro II , no qual a psiquiatra coordenava o setro de terapia ocupacional.

Após sua prisão pelo governo Getulio Vargas, por ser acusada de comunista, retorna para esse hospital para ocupar o cargo de coordenadora do setor de terapia ocupacional  que se encontrava num estado de total abandono.

Contra qualquer meio de tratamento desumano da saúde mental, como a lobotomia e os eletrochoques, comuns na época, Nise da Silveira começa a realizar um trabalho diferenciado a respeitar cada interno como indivíduo.

Por iniciativa de um monitor que apreciava as artes plásticas, implementou-se o ateliê de pintura, cerâmica, música e trabalhos manuais.

 o grande destaque foi  para o ateliê de pintura, pois atraiu uma grande curiosidade do meio científico e a partir daí várias pesquisas em relação à esquizofrenia foram desenvolvidos. Esta era a condição da maioria dos pacientes.

Aos poucos os participantes deste Ateliê foram expressando através da pintura os seus conteúdos internos, carregados de imagens oníricas e míticas emergidas do inconsciente e que deu origem a esse museu, mantido até hoje pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

Os visitantes podem conferir as obras de Adelina Gomes, Fernando Diniz, Emigidio de Barros, Carlos Pertuis, entre outros.

Ele é de extrema importância, pois serviu de ponte desses internos marginalizado com o mundo das artes plásticas.


domingo, 15 de janeiro de 2017

Serralves / Exposição "Joan Miró: Materialidade e Metamorfose"

     Após o 25 de Abril, várias pessoas manifestaram-se a favor da abertura ao público de um espaço, na cidade do Porto, onde pudesse ser exibida arte produzida por artistas do nosso tempo. Inicialmente existiu um Centro de Arte Contemporânea, mas com o envolvimento do Estado, foi adquirida a Quinta de Serralves e criada a Fundação Serralves. Esta Fundação é uma parceria totalmente inovadora entre o Estado Português e entidades públicas e privadas. Neste momento são 181 as individualidades, entre empresas e particulares, que gerem Serralves.
     Em 1991 foi entregue ao arquiteto Siza Vieira o projeto de construção do Museu, posteriormente inaugurado em 1999. Na atualidade, este espaço museológico é o mais importante Museu de Arte Contemporânea do país. Quem o visita pode encontrar obras que pertencem à coleção da Fundação, de artistas nacionais ou internacionais e até exposições itinerantes organizadas em colaboração com outras instituições congéneres. 
     Da Quinta de Serralves fazem ainda parte a Casa de Serralves (Figuras 1 e 2), utilizada em algumas exposições temporárias e o Parque de Serralves. Este último compreende uma quinta pedagógica, matas e jardins, onde é possível encontrar uma grande variedade de espécies autóctones, como o teixo, o azevinho ou a aveleira e exóticas, como as sequóias-gigantes, os cedros-do-Líbano ou as camélias. 



Figuras 1 e 2 - Casa de Serralves e parte do jardim
(Fotografias da minha autoria.)

     Nos jardins e matas existem percursos que o visitante pode fazer, assim como uma exposição permanente e temporárias. Quem explorar este espaço exterior até junho do presente ano encontrará a exposição Parque do Vento Opaco em Seis Dobras, da artista coreana Haegue Yang (Figuras 3 e 4). Além das espécies vegetais embutidas nas torres de tijolo, as esculturas incluem turbinas eólicas.  



Figuras 3 e 4 - Parque do Vento Opaco em Seis Dobras 
(Fotografias da minha autoria.)

     Nos últimos meses tem estado patente na Casa de Serralves a exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose. As obras apresentadas pertencem ao Estado Português e revelam a carreira do pintor entre 1924 e 1981.
     A partir de 1924, Miró criou uma linguagem de signos absolutamente inovadora, sendo que um signo é um substituto de um objeto ou ideia. Na Figura 5 encontramos uma mulher com uma cabeça bem diferente do comum, feita de linhas curvas, distorcida; há uma subversão do que é considerado o retrato tradicional. Nos anos 30 viveu-se a Guerra Civil em Espanha e Miró procurou transmitir alguma dessa brutalidade e terror no seu trabalho, distorcendo a figura humana. 
     Após uma série de pinturas sobre masonite (um tipo de madeira industrial), nas quais utilizou tintas de óleo, alcatrão, seixos, entre outros materiais e revelou uma certa dose de violência, ao ponto de perfurar a superfície de algumas, criou Le chant des oiseaux à l'automne (Figura 6). A atenuação do período de terror surge com o lirismo da poesia, há uma profundidade física, mas ao mesmo tempo um desejo de evasão totalmente poético.


Figura 5 - Femme, 1935, Guache e tinta-da-china sobre papel.
(Fotografia da minha autoria.)


Figura 6 - Le chant des oiseaux à l'automne, 1937, Óleo sobre placa de espuma rígida (celotex).
(Fotografia da minha autoria.)

     Entre os anos 40 e 60, Miró produziu muitos trabalhos em que utilizou a tinta-da-china sobre papel e tinta-da-china em conjunto com a aguarela sobre tela (Figura 7). É um trabalho mais gráfico, derivado da sua atividade enquanto gravador. Entretanto, no início dos anos 70, em colaboração com Josep Royo, elaborou uma série de 33 composições denominadas Sobreteixims, tapeçarias originais em que colou materiais que encontrou e deu-lhes novas funcionalidades/identidades. Na Figura 8 surgem baldes, pedaços de tecido e fios colados no têxtil como se fossem tinta derramada e salpicada. O significante (ex. balde) ganha um novo significado (ex. tubo de tinta).
     No mesmo espaço em que produziu os Sobreteixims, Joan Miró queimou algumas telas, numa postura de destruição que era também de criação. O processo consistiu nos seguintes passos: em primeiro lugar as telas foram cortadas, depois foi adicionada a tinta e por fim a gasolina. O incêndio foi controlado com uma esfregona embebida em água e apenas queimou aquilo que o autor permitiu. Assim surgiram as cinco Toile Brulées, o que traduzido para português significa Telas Queimadas (Figura 9). Na Casa de Serralves a tela está pendurada do teto, de modo a que o visitante veja através das perfurações. 


Figura 7 - Sem título, 1950, Tinta-da-china sobre papel.
(Fotografia da minha autoria.)


Figura 8 - Sobreteixim 12, 1973.
(Fotografia da minha autoria.)


Figura 9 - Toile Brulée, 1973
(Fotografia da minha autoria.)

     Ir a Serralves é uma experiência cultural enriquecedora, há sempre uma grande diversidade de obras de arte contemporânea que podem ser fruídas pelo público, bem como a possibilidade de contatar com a natureza. E desengane-se quem pensa que este espaço é apenas para entendidos. Pais e filhos podem desfrutar aos fins de semana de oficinas que exploram todos os recantos da Quinta.

     Bibliografia
Serralves [Em Linha]. Fundação Serralves [Consult. 15 janeiro 2017]. Disponível em WWW: <URL: http://www.serralves.pt/pt/>
MESSERI, R. L. (2016) Joan Miró: Materialidade e Metamorfose. Porto: Fundação de Serralves.