Pollyanna Motta Martins
Refletir
sobre a condição humana em relação as novas tecnologias: essa é a proposta de Jander
Rama, jovem artista e também professor de artes da educação básica, em suas
obras da série “Manuais pseudo-técnicos: A ciência fictícia no âmbito de
tecnologias e corpos obsoletos” expostas na Pinacoteca do Instituto de Artes da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em abril de 2015.
A
exposição traz uma ideia muito bem humorada do resultado do cruzamento entre
desenho técnico, gravura, elementos extraídos do campo da engenharia, arte
gráfica e muita invenção e ironia em suas linoleogravuras que lembram cópias
heliográficas. O azul, cor predominante nas obras de Jander Rama, é uma
referência a heliografia. Seu interesse é devido as questões anacrônicas, de um
passado da engenharia que o azul remete.
A
série de manuais pseudo-técnicos é composta por seis manuais mostrados em
formato de livro. São manuais fictícios que questionam a presença constante da
tecnologia no nosso cotidiano e no nosso corpo e sugerem a integração entre os
indivíduos e algumas próteses, em um diálogo com a inteligência artificial.
Jander
Rama, que é mestre e doutor em Poéticas Visuais, também cursou engenharia na
graduação, o que explica o seu processo criativo, que envolve desenhos
técnicos, mas completamente inventivos, como implantes e cyborgs. Na sua busca por soluções fantasiosas para problemas
humanos, fica claro o seu interesse em conciliar a arte e ciência e realidade
e ficção.
As
gravuras não têm legendas, apenas há linhas brancas no lugar onde suponha-se
estar o número e a legenda. Em uma entrevista, Jander Rama disse ter dificuldades
em fazer letras invertidas na chapa de linóleo com goivas e que esse é um dos
motivos pelas suas obras não ter legendas. Mas, além disso, esse fato curioso
acaba por deixar a obra mais aberta, dando a possibilidade da obra ser
completada pelo observador.
A
linguagem científica utilizada pelo artista serve como ponto de partida para
tratar de temas relacionados ao diálogo entre homem e máquina e nos faz
refletir sobre a obsolescência pela qual os nossos corpos estão submetidos.
Atualmente, há uma exposição de
Jander Rama intitulada “Aero-Trem Submarino – Estudo para ligação entre
Porto Alegre, Guaíba e Eldorado do Sul”, que segue até 3 de janeiro, na
Galeria Mario Quintana, em Porto Alegre, onde o artista propõe com muita ironia
e imaginação um cruzamento dos meios de transporte aéreo, aquático e terrestre
em um desenho de 11 metros.
Jander Rama. Implante para refrescar a mente, 2014
Água-forte sobre papel Hahnemühle, capa e ponteiras
de metal, 45 cm x 35 cm
Água-forte sobre papel Hahnemühle, capa e ponteiras
de metal, 45 cm x 35 cm
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