domingo, 27 de dezembro de 2015

Encontro entre o tecnológico e o artesanal nos manuais pseudo-técnicos de Jander Rama

Pollyanna Motta Martins

Refletir sobre a condição humana em relação as novas tecnologias: essa é a proposta de Jander Rama, jovem artista e também professor de artes da educação básica, em suas obras da série “Manuais pseudo-técnicos: A ciência fictícia no âmbito de tecnologias e corpos obsoletos” expostas na Pinacoteca do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em abril de 2015.
A exposição traz uma ideia muito bem humorada do resultado do cruzamento entre desenho técnico, gravura, elementos extraídos do campo da engenharia, arte gráfica e muita invenção e ironia em suas linoleogravuras que lembram cópias heliográficas. O azul, cor predominante nas obras de Jander Rama, é uma referência a heliografia. Seu interesse é devido as questões anacrônicas, de um passado da engenharia que o azul remete.
A série de manuais pseudo-técnicos é composta por seis manuais mostrados em formato de livro. São manuais fictícios que questionam a presença constante da tecnologia no nosso cotidiano e no nosso corpo e sugerem a integração entre os indivíduos e algumas próteses, em um diálogo com a inteligência artificial.
Jander Rama, que é mestre e doutor em Poéticas Visuais, também cursou engenharia na graduação, o que explica o seu processo criativo, que envolve desenhos técnicos, mas completamente inventivos, como implantes e cyborgs. Na sua busca por soluções fantasiosas para problemas humanos, fica claro o seu interesse em conciliar a arte e ciência e realidade e ficção.
As gravuras não têm legendas, apenas há linhas brancas no lugar onde suponha-se estar o número e a legenda. Em uma entrevista, Jander Rama disse ter dificuldades em fazer letras invertidas na chapa de linóleo com goivas e que esse é um dos motivos pelas suas obras não ter legendas. Mas, além disso, esse fato curioso acaba por deixar a obra mais aberta, dando a possibilidade da obra ser completada pelo observador.
A linguagem científica utilizada pelo artista serve como ponto de partida para tratar de temas relacionados ao diálogo entre homem e máquina e nos faz refletir sobre a obsolescência pela qual os nossos corpos estão submetidos.
            Atualmente, há uma exposição de Jander Rama intitulada “Aero-Trem Submarino – Estudo para ligação entre Porto Alegre, Guaíba e Eldorado do Sul”, que segue até 3 de janeiro, na Galeria Mario Quintana, em Porto Alegre, onde o artista propõe com muita ironia e imaginação um cruzamento dos meios de transporte aéreo, aquático e terrestre em um desenho de 11 metros.

Jander Rama. Implante para refrescar a mente, 2014
Água-forte sobre papel Hahnemühle, capa e ponteiras de metal, 45 cm x 35 cm

Jander Rama. Somos todos Charlie Chaplin em Tempos Modernos, 2014
Água-forte sobre papel Hahnemühle, capa e ponteiras de metal, 45 cm x 35 cm

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